Entre os dias 10 a 12 de setembro ocorreu nas dependências do Instituto Deltares, em Delft na Holanda, a 12a. edição da oficina Argus (12th Argus Workshop Conference). O encontro reuniu cientistas interessados no estudo dos processos costeiros utilizando o sistema Argus de imageamento digital de alta resolução.
O sistema de vídeo imageamento Argus encontra-se operacional nos últimos 28 anos e se beneficia pela inclusão continua de ferramentas tecnológicas de ponta desenvolvidas por uma rede de pesquisadores espalhados ao redor do globo que periodicamente se reúnem para discutir os seus principais resultados. Nesta edição da oficina estiveram presentes alunos, técnicos e pesquisadores do Chile, Brasil, França, Inglaterra, Bélgica, Itália, Korea do Sul, Austrália, Dinamarca, Espanha, Estados Unidos e Holanda.
Os grandes destaques desta edição foram a celebração dos 28 anos de criação do sistema, com apresentação de um histórico de estudo de mais de 60 praias distribuídas ao redor do globo e a otimização do sistema para a obtenção de batimetria da zona de surfe utilizando algoritmos que analizam dados no domínio da frequência combinados com a teoria linear de propagação de ondas.
Dr Rob Holman da Universidade do Oregon idealizador do sistema Argus
O GT 1.1, do inctAmbTropic participou do evento com a apresentação de três trabalhos desenvolvidos por alunos e pesquisadores do grupo dos quais dois foram desenvolvidos na USP, por Cássia Pianca e o Prof. Eduardo Siegle, e um na UFPE, pelo Prof. Pedro Pereira e seus alunos. Ambos os trabalhos contaram com a colaboração do Dr. Rob Holman, pesquisador da Oregon State University, desenvolvedor do sistema Argus e parceiro do GT 1.1.
Participantes da Oficina Argus 2014
O evento teve como anfitriões o instituto Deltares e a Delft University of Technology (TUDelft). A razão da escolha do Deltares para sediar o evento deve-se ao elevado número de sistemas Argus mundialmente em operação supervisionados e implementados por este instituto, além do atual interesse internacional no desenvolvimento do Sand Motor – um mega projeto de engordamento de praia, em forma de delta que conta com um sistema Argus instalado para monitoramento diário da batimetria e das variações topográficas e volumétricas da praia utilizando videografia.
Exemplo de batimetria ainda não corrigida pela maré para a praia de Boa Viagem (Recife-PE) obtida utilizando o sistema Argus. A imagem de fundo corresponde a uma imagem de longa exposição do tipo Timex. A praia encontra-se a esquerda da imagem com a linha de costa situada nos 90m do eixo horizontal.
As oficinas do grupo Argus ocorrem a cada dois anos com alternância entre os Estados Unidos e um outro país. O Brasil, tendo em vista a instalação futura de pelo menos quatro sistemas Argus por iniciativa do GT 1.1 do inctAmbTropic figura entre uma das opções para sediar a proxima edição da oficina fora dos Estados Unidos.
Atualizado: 27 de ago. de 2020
O GT1.1 Respostas da Linha de Costa do inctAmbTropic publicou recentemente o artigo “Potencial de Prejuízos Econômicos em Função da Densidade de Urbanização e da Sensibilidade à Erosão Costeira na Costa do Cacau – Bahia”.
A Costa do Cacau inclui importantes cidades turísticas do litoral baiano incluindo Itacaré, Ilhéus, Olivença e Canavieiras e apresenta diversos trechos que experimentam erosão severa em alguns casos, desencadeada por intervenções humanas (e.g. Porto de Ilhéus).
Diferentes níveis de sensibilidade à erosão (A), de densidade de urbanização (B) e de potencial de prejuízos econômicos (C) por ocupação urbana à beira-mar na Costa do Cacau.
Enrocamento protegendo residências da ação erosiva das ondas na praia de São Domingos
Resumo
O presente trabalho trata da avaliação do potencial de prejuízos econômicos em função da densidade de urbanização por construções fixas à beira-mar e da sensibilidade à erosão na Costa do Cacau, Bahia. Constatou-se que 48,78% da região à beira-mar apresentam um potencial baixo de prejuízos econômicos face à erosão costeira, o que é encontrado em situações de linha de costa a) em equilíbrio e com densidade de urbanização baixa, e b) em progradação e com densidade de urbanização baixa; 26,22%, um potencial médio, em situações de linha de costa a) próximas a desembocadura fluvial e com baixa densidade de urbanização, b) submetida à erosão e com baixa densidade de urbanização, e c) em equilíbrio e com densidade de urbanização média; 22,56%, um potencial alto, em situações de linha de costa a) em equilíbrio e com alta densidade de urbanização, e b) com déficit crônico de sedimentos e focos de convergência de onda aliados a uma densidade baixa de urbanização; e 2,44%, um potencial muito alto, correspondendo a um único trecho de linha de costa submetido à erosão e com alta densidade de urbanização. Os diferentes níveis potenciais de prejuízos econômicos, aqui expressos, traduzem apenas o panorama atual das densidades de urbanização ao longo da região de beira-mar. Tal cenário poderá ser agravado, caso venham a ser mantidas as perspectivas de crescente ocupação humana na região, via de regra conduzida desconhecendo-se a dinâmica costeira local e pelas normas estabelecidas para o desenvolvimento urbano costeiro. Por fim, em que pese as incertezas relacionadas a) ao método utilizado para estimar as densidades de urbanização e b) ao desconhecimento da tendência, se de curto ou longo prazo, do comportamento da linha de costa em relação à erosão, os resultados alcançados, embora de natureza preliminar, apresentam cenários que poderão ser úteis para o gerenciamento costeiro da Costa do Cacau.Acesso ao arquivo completo (clique)
Referência completa: Nascimento, , Bittencourt, ACSP, Santos, AN, Dominguez, JML 2013. Potencial de Prejuízos Econômicos em Função da Densidade de Urbanização e da Sensibilidade à Erosão Costeira na Costa do Cacau – Bahia. Revista Brasileira de Geomorfologia v14 (4): 261-270.
O GT1.1. Respostas da Linha de Costa do inctAmbTropic – coordenado pelos profs Eduardo Siegle e Tereza Araújo, comunica a defesa da dissertação de mestrado “Vulnerabilidade costeira em praias do norte do Espírito Santo e sul da Bahia” pela acadêmica Juliana dos Santos Ribeiro no Programa de Pós-Graduação em Oceanografia do IOUSP. A defesa da dissertação foi realizada no dia 28 de março de 2014 e a comissão julgadora foi composta pelos profs. Eduardo Siegle (orientador); Jarbas Bonetti (UFSC) e Moysés Tessler (IOUSP). O trabalho foi desenvolvido no contexto do inctAmbTropic e teve também o apoio da Conservation International (CI) através do projeto “Climate change vulnerability assessment of the Discovery coast and Abrolhos shelf, Brazil”.
Resumo: A erosão costeira é um processo de grande poder destrutivo e que afeta pelo menos 70% da zona costeira no mundo. Entender as causas e os processos que levam à erosão, bem como as regiões mais ou menos sensíveis a ela, é essencial para o correto manejo costeiro. O presente trabalho visa identificar as áreas vulneráveis à erosão, através da aplicação de um Índice de Vulnerabilidade Costeira, em praias do norte do Espírito Santo (Pontal do Ipiranga, Conceição da Barra) e sul da Bahia (Mucuri, Nova Viçosa, Caravelas, Prado, Cumuruxatiba, Corumbau, Arraial d’Ajuda, Porto Seguro). O cálculo do índice se deu pela análise de treze indicadores ambientais: número de frentes frias, regime de tempestade, força de ondas, ângulo de incidência das ondas, estimativa de deriva potencial, morfologia da praia, exposição às ondas, presença de rios e/ou desembocaduras, elevação do terreno, vegetação, taxa de ocupação, obras de engenharia costeira e evidências de erosão. Os resultados mostraram que os indicadores “morfologia da praia” e “exposição às ondas” parecem ser os principais contribuintes para a erosão costeira nos municípios em que foram observados grandes prejuízos na infraestrutura urbana e perigo iminente à população local. Já nos demais municípios que também apresentaram focos de erosão, a combinação entre os indicadores “estimativa de deriva potencial” e “regimes de tempestade” parece ser a principal influência ao processo erosivo. Com exceção de Pontal do Ipiranga (que obteve um resultado de baixa vulnerabilidade), todas as praias apresentaram um IVC correspondente à vulnerabilidade moderada à erosão. O estudo se mostra eficiente para a determinação do nível de vulnerabilidade relativo entre as praias estudadas.