Entre os dias 8-12 de novembro ocorrerá a edição 2021 do Encontro Recifal Brasileiro (EReBra), totalmente online e gratuita. Um evento voltado para divulgação científica e conexão entre as diversas áreas relacionadas aos ambientes recifais, organizado por integrantes da UFF, UFRJ e da UFRN.
No dia 8/11, de 8 às 12:00, o evento será iniciado com uma mesa sobre “A dimensão humana na ciência sobre os recifes” com a participação de pesquisadores de diferentes universidades integrantes do INCT AmbTropic II, GT 1.2 Recifes e ecossistemas coralinos.
A proposta do simpósio é discutir as necessidades e perspectivas que a comunidade envolvida no estudo dos recifes têm para ampliar a sua atuação na incorporação do fator humano na sua atividade de pesquisa e assim, aprimorar a compreensão que se tem deste sistema que precisa em toda a sua complexidade.
1ª parte
1. Zelinda M.A.N. Leão - História da pesquisa científica sobre os recifes do Brasil
Dos primeiros cientistas que visitaram o Brasil no século 19, até a Década do Oceano, a pesquisa científica sobre os recifes de coral brasileiros produziu mais de 700 trabalhos os quais foram quali e quantitativamente analisados.
2. Tito Lotufo - Funções dos recifes nos ecossistemas humanos
Para além dos benefícios mais evidentes dos ambientes coralíneos, como o turismo e a pesca, estes sistemas estão fortemente conectados com outros ecossistemas e realizam funções que são essenciais para a humanidade. Serão brevemente discutidas as principais funções exercidas pelos recifes nos ecossistemas humanos, incluindo aquelas denominadas como serviços ecossistêmicos.
3. Rafael Magris - Estratégias de conservação dos ecossistemas recifais
Ecossistemas recifais encontram-se globalmente sob forte ameaça. Diante de um mundo de necessidades e impactos humanos crescentes, diversas estratégias têm sido utilizadas para a manutenção da funcionalidade destes ecossistemas, incluindo: (i) o planejamento e a implementação de áreas marinhas protegidas, (ii) a identificação e redução do risco de ameaça à espécies em declínio, (iii) o estabelecimento de programas de monitoramento, e (iv) a adoção de técnicas de recuperação recifal.
4. Marluce Custódio: Paisagens marinhas: recifes e patrimônio imaterial construído pelo turismo
A ideia da conversa é discutir a paisagem marinha como componente que conduz a proteção de recifes, não apenas pela sua importância ambiental, mas como parte da cultura de uma sociedade e ponto de visitação. Incrementado inclusive por inserção de arte, manutenção de elementos históricos como navios afundados, dentre outros. Discutiremos como a visualização da paisagem marítima pode criar percepção social, inclusive pelo turismo, e com isso garantir a proteção ambiental dos recifes que tem papel incontestável na garantia do meio ambiente ecologicamente equilibrado. Complementaremos com uma aproximação inicial, a paisagem marinha no contexto das comunidades tradicionais.
5. Beatrice Padovani Ferreira - Monitoramento participativo e a rede internacional de monitoramento de recifes
Nesta palestra será apresentada a iniciativa adaptação do monitoramento participativo utilizado no PELD TAMS, com base no ReefCheck, para a formação de uma rede com o INCT AmbTropic, com participação de comunidades costeiras e de pescadoras e pescadores. Também serão discutidos os resultados obtidos utilizando o protocolo Reef Check em unidades de conservação em recifes na costa brasileira.
2ª Parte
1.Marcelo Soares - Impactos nos recifes de corais e vulnerabilidade socioeconômica
Os impactos locais e globais em curso no Antropoceno estão alterando profundamente a biodiversidade marinha bem como os bens e serviços ambientais ofertados pelos recifes de corais. Dentre essas alterações profundas geradas pela simplificação e degradação dos recifes um dos aspectos negligenciados é o aumento da vulnerabilidade socioeconômica das quase 500 milhões de pessoas que dependem diretamente dos recifes. Nessa palestra esse tema será explorado mostrando como o aquecimento global, aumento do nível do mar, mudanças de fase nos recifes e outros aspectos ambientais estão interligados com impactos e o aumento da vulnerabilidade de comunidades humanas costeiras e insulares.
2. Maria Elisabeth de Araújo - Etnoconservação: academia, pescadores e resultados.
Estudos etnocientíficos foram iniciados por antropólogos na década de 30, tendo sido apropriados pela área biológica com conceitos e práticas diversas. A etnoconservação vem crescendo muito rapidamente entre ecólogos interessados em gestão e nos aspectos socioculturais da conservação da natureza. Cabe-nos perguntar: Os resultados das pesquisas fortalecem a interação entre a academia e a comunidade pesqueira em prol da conservação do ambiente, incluindo os povos nativos?
3. Priscila Lopes - Conhecimento ecológico local como mecanismo de detecção de impactos em ambientes recifais
O conhecimento ecológico local vem sendo demonstrado como uma ferramenta eficiente para preencher lacunas de conhecimento científico, apontar novas perguntas e soluções, e incluir comunidades humanas no espaço de gestão, em diversos ambientes, inclusive os recifais. Há ainda a possibilidade deste conhecimento representar uma maneira rápida e efetiva de acessar a magnitude de impactos ecológicos e sociais locais, sejam eles pontuais ou extensos. Por exemplo, à medida em que há aumento da imprevisibilidade climática, surgem novos impactos de ordem ecológica com consequências em sistemas sociais, como perda da produtividade pesqueira. A mesma ideia é válida para impactos mais pontuais, como episódios de derramamento de óleo. Aqui, discutirei como este tipo de conhecimento pode ser fundamental para anteciparmos tanto impactos causados por grandes mudanças como para desenharmos estratégias mitigatórias mais adequadas às necessidades locais em função de impactos recém-sofridos.
4. Luisa Viegas - Importância da divulgação científica para a preservação ambiental
A divulgação científica é uma ferramenta importantíssima para a propagação do conhecimento científico, e se faz cada vez mais presente como uma forma de combater as notícias falsas que se espalham no mundo virtual e promover a preservação ambiental. Nesta palestra, abordarei a importância da divulgação científica na sociedade moderna, bem como as diferentes formas de se fazer divulgação científica visando a proteção dos oceanos.
O programa completo do evento inclui plenárias ao vivo, apresentações de trabalhos e sessões interativas. Você pode conferir a programação detalhada acessando o link.
Temos o prazer de anunciar, para o dia 21 de setembro, às 18h30, dentro do Seminário INCT IN-TREE e Novos e Velhos Saberes a palestra:
Novo tempo, velhos recifes
A qual será realizada pelo Prof. Dr. Ruy Kikuchi, professor do Instituto de Geociências da UFBA e integrante do inct AmbTropic II.
O seminário é uma atividade continuada de extensão dos programas de pós-graduação do Instituto de Biologia da UFBA (Biodiversidade e Evolução, Ecologia Aplicada à Gestão Ambiental, Ecologia: Teoria, Aplicação e Valores e Microbiologia) e do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia, através do projeto "Estudos interdisciplinares e transdisciplinares em Ecologia e Evolução", juntamente com a EngPesc Rádio Web.
O acesso à sala é através do canal do Instituto de Biologia da UFBA no YouTube: https://www.youtube.com/c/EaíIBIO.
Para aqueles que precisarem haverá uma declaração de participação.
Resumo
As atividades humanas intensificaram-se muito nos últimos 150 anos. Nesse período a ciência passou a compreender que a intensidade das modificações na natureza provocadas pelos humanos ganharam uma proporção nunca atingida na história da Terra desde a evolução do Homo sapiens. Passou-se, então, a considerar o surgimento de um novo capítulo na história do planeta discute-se hoje em dia a criação, no calendário geológico do período que se chama a “idade da humanidade”, o Antropoceno. É a idade das mudanças climáticas globais, da mudança na composição da atmosfera, da poluição, de aceleração de extinções, de invasões de espécies.
E como ficam os recifes nesse novo tempo? Sofrem redução da diversidade de corais, redução da ocupação dos espaços por organismos que constroem o recife com seus esqueletos de carbonato de cálcio, sofrem redução na quantidade de peixes que podem ser consumidos por nós.
O que os recifes no Brasil contribuem para entendermos essas mudanças? Eles são construídos por algumas espécies chamadas de arcaicas, e já eram conhecidos por terem características diferentes daquelas atribuídas aos recifes mundialmente famosos do Caribe, da Austrália, do “Triângulo dos corais”, no Extremo Oriente. Serão eles os modelos do futuro dos recifes no mundo? E como eles serão no futuro?
Novo artigo publicado na revista Ocean and Coastal Management pelo GT1.2 (Recifes e Ecossistemas Coralinos), intitulado “Impacts of a changing environment on marginal coral reefs in the Tropical Southwestern Atlantic”, de autoria de Marcelo Oliveira Soares, Sergio Rossi, Anne Rebouças Gurgel, Caroline Costa Lucas, Tallita Cruz Lopes Tavares, Beatriz Diniz, Caroline Vieira Feitosa, Emanuelle Fontenele Rabelo, Pedro Henrique Cipresso Pereira, Ruy Kenji Papa de Kikuchi, Zelinda M.A.N. Leão, Igor Cristino Silva Cruz, Pedro Bastos de Macedo Carneiro, Lorenzo Alvarez-Filip, discute os efeitos de múltiplas pressões sobre os recifes brasileiros.
Uma ampla avaliação revela que eventos de branqueamento afetaram 26 espécies nos últimos 26 anos (1994–2020). Entre 1994 e 2018 nenhuma espécie sofreu mortalidade em massa após o branqueamento. No entanto, as ondas de calor recentes e intensas de 2019 e 2020 causaram altas taxas de mortalidade em vários corais mostrando que esses recifes não são protegidos a longo prazo e nem refúgios universais. Essas mudanças e outros fatores como pesca🪝, urbanização, mineração, derramamentos de óleo, aumento da sedimentação, ondas de calor, lixo marinho, contaminação urbana, efluentes agrícolas e industriais e espécies invasoras são as pressões mais severas.
O artigo também discute a "hipótese de refúgio do recife brasileiro" a qual poderia ser parcialmente aplicada para alguns corais resistentes ao estresse durante distúrbios agudos (refúgio de curto prazo). No entanto, tal fato não garante que os recifes brasileiros devem ser assumidos como um ecossistema que servirá de refúgio contra as mudanças climáticas.
Por fim, os autores argumentam que é essencial a adoção de estratégias de gestão a nível local e global.
Acesse e compartilhe o artigo completo pelo link: https://authors.elsevier.com/a/1d9-K3RKK-qP4f
RESUMO
The peculiar shallow-water reefs of the Tropical Southwestern Atlantic Ocean have thrived in conditions considered suboptimal (e.g., moderate turbidity, higher level of nutrients, and resuspension of sediments) under the optics of classical coral reefs. Recently, these marginal reefs have been hypothesized to provide climate-change refugia from natural and anthropogenic impacts; yet with little empirical evidence. Therefore, in this article we discuss the known effects of multiple pressures on the Brazilian reefs. A wide evaluation of the peer reviewed literature reported that bleaching events affected 26 species of scleractinians, hydrocorals, octocorals, and zoanthids in turbidzone reefs over the last 26 years (1994–2020) in the Tropical SW Atlantic Brazil. Between 1994 and 2018 no species suffered post-bleaching mass mortality. However, the recent and intense heatwaves of 2019 and 2020 caused higher mortality rates in several key foundation corals (e.g., Millepora alcicornis, Millepora braziliensis, and Mussismilia harttii) showing that the SW Atlantic reefs are not long-term protected and universal refuges. Moreover, other direct and indirect human pressures threaten these tropical reefs. Local and regional (e.g., pollution and fisheries) and large-scale pressures (e.g., global warming and marine heatwaves) act simultaneously on the health of these reefs, which intensifies negative species-specific impacts. We outline the occurrence of pressures that have been important factors responsible for the reduction in species richness and reef fish biomass, changing geoecological functions, altered reef composition and dominant morpho-functional groups, as well as phase shifts. Along with large-scale climatic changes, such as heatwaves, fisheries, urbanization, mining disasters, oil spills, increased sedimentation, increased warming, marine debris, contamination by domestic, agricultural, and industrial effluents, and introduction of invasive species are likely the most severe pressures on Brazilian reefs. We discuss that the “Brazilian reef refuge hypothesis” could be partially applied for some stress-tolerant massive corals during acute disturbances (short-term refuge); yet should not be assumed as a reef ecosystem-wide feature under ongoing environmental change. Therefore, we argue that it is essential to alleviate the main local and regional human impacts and to adopt resilient-based management strategies at local and global scales to protect the lowfunctional redundancy and higher endemism of these unique marginal coral reefs.